quarta-feira, 8 de maio de 2013

Um novo olhar sobre a Africa(civilizações Africanas)



As constantes disputas por terras entre os antigos impérios e reinados durante toda a antiguidade, contribuíam para o alargamento das fronteiras das cidades e crescimento dos Estados, portanto a partir de nosso material de estudo de História da África podemos perceber que estas politicas de expansão não foram desenvolvidas apenas no ocidente, sendo realidades apenas das civilizações europeias como Roma e Grécia. Foi possível trazer pro nosso conhecimento que o continente Africano também possuía suas cidades Estados e seus sistemas de organização social, surgindo assim para o nosso conhecimento traços históricos de grande importância sobre a História da África. Nesse momento aqui a discussão é acerca das cidades de Napata e Meróe, ambas pertencentes ao reino de Kush. E para elencar as vantagens de Meróe em relação a Napata, digo que após as investidas dos persas sobre o território de Napata, a capital teve de ser transferida para Meróe por esta apresentar uma localização geográfica mais adequada tanto para fins econômico, como para habitação e povoamento, pois numa sociedade estritamente agraria e dependente de chuvas para uma boa produtividade de alimentos, Meróe oferecia chuvas regulares e clima ameno, que não poderia ser encontrado em Napata por localizar-se numa região cercada de desertos e não sendo propicia para a agricultura, além de não dispor de  uma rota comercial de troca definida assim como Meróe.
Continente Africano


terça-feira, 30 de abril de 2013

EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO PCN's


É sóbrio dizermos que não podemos mais pensar no meio ambiente, como algo infinito e sem vida paralelo a existência humana, sendo apenas algo inerente para as necessidades vitais dos homens, não necessitando de cuidados e preservação.
Pensar na natureza como complexo de vidas e da biodiversidade, é pensar que o homem é uma vida dentro do complexo e que este depende das outras vidas e da biodiversidade existente no meio para sua existência e continuidade da espécie neste meio. Preservar e cuidar é tornar sustentável os meios e condições para a vida do homem e enquanto eu, você, nós não compartilharmos deste mesmo pensamento o meio ambiente continuara clamando por socorro e a humanidade vai pagando de forma lenta por um crime que nem todos têm a mesma parcela de culpa. Não quero inocentar uns e julgar outros, de uma forma ou de outra todos temos contribuído para o grave que temos acompanhado nos noticiários com frequência, mas o quero deixar claro e expresso no meu haver é que na verdade o maior impacto provocado do está atribuído a uma parcela dos países mais ricos, que buscam através de seu crescimento e poder industrial enriquecer cada vez mais sem preocupar-se com a responsabilidade social e ambiental.
É preciso reeducar esta geração e educar as próximas para os princípios norteadores que visem a preservação ambiental, o consumo consciente e a responsabilidade de cada um para com o meio ambiente. É aí onde entra o papel da escola além dos seus muros, pois esta como parte responsável pela formação e construção da moral e dos valores sociais, fica incumbida de trabalhar esta questão dentro dos temas transversais e da inserção nos PCNS, para que assim os trabalhos desenvolvidos dentro da escola possam expandir além muros e tome posições transformadoras que elucidem aquilo que almejamos e tanto buscamos que é a sustentabilidade, ou seja, tirarmos da natureza os recursos que necessitamos para sobrevivermos garantindo a renovação e permanência dos mesmos para as futuras gerações, este sim é o papel da escola que na pratica diária devem incluir a preocupação com uma solidariedade global. Nós não podemos mais pensar que os problemas ambientais atuais sejam de responsabilidade dos governos e cientistas.
A mídia ultimamente tem tratado com frequência questões relacionadas ao meio ambiente, porem não é difícil de percebermos que os meios de comunicação trazem como referencia valores que estimulam o consumismo exacerbado, o desperdício e a irresponsabilidade com as gerações futuras. Neste cenário que a escola tem que trabalhar no sentido de desenvolver uma postura critica diante da realidade, de informações e valores veiculados pela mídia e até mesmo daqueles valores já concebido em casa a qual o aluno é o reflexo.
Infelizmente ainda não atuo em sala de aula, mas faço parte do corpo estrutural escolar, sou funcionário da Escola Estadual “Deputado Francisco Paixão”, localizada no município de Campo do Brito e a quase quatro anos presencio o dia-a-dia da rotina escolar. Nesta escola que trabalho a questão ambiental é assunto presente nos temas transversais, sendo este assunto tema abordado na proposta pedagógica da Escola(PPE), digo ainda dentre os seis temas previstos nos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental, frequentemente projetos voltado para o meio ambiente são executados, na tentativa de aproximação dos alunos com esta problemática, buscando a participação e o empenho dos educando para compreensão da gravidade do problema que estamos causando ao ecossistema com nossos atos e ações sem a devida reflexão e atenção para a preservação ambiental.


quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Família Corumba como retrato de uma classe oprimida


Somos conhecedores do Boom da industrialização nos primeiros anos do século XX em Aracaju, sabemos também que Sergipe apesar de seu pequeno espaço territorial foi destaque no nordeste quando se tratando da modernidade proporcionada pela indústria nos centros urbanos. O boom econômico da indústria no século XX, foi o principal responsável pela migração de famílias que saíram da zona rural em busca de dias melhores na cidade.
            Foi a partir desta temática que Amando Fontes desenvolve seu romance OS CORUMBAS, publicado em 1933. Em seu romance ele buscou a construção de uma literatura voltada para o processo de industrialização e a vida do operário no entorno das recentes fabricas instaladas na capital sergipana. Na criação dos personagens da família Corumbas, fontes transcreve todos os anseios vividos no imaginário das varias famílias camponesas, que alimentavam o sonho de liberta-se das frequentes secas que assolavam a rotina dos trabalhadores rurais e da vida dura na lida campo, por uma vida na cidade em que poderiam garantir emprego e dias melhores para todos os membros da família. A partir das ideias expressa no romance voltada para a personagem de Sá Josefa, apresento alguns comentários sobre a sonhadora e desiludida mãe em busca de dias melhores pra sua família.
            Como apresentado na obra de Fontes, os personagens da família Corumba surge logo depois do primeiro encontro entre Geraldo Corumba e Sá Josefa, em uma festa na fazenda do senhor João Piancó que na ocasião pagava promessa a São José santo padroeiro das chuvas segundo a crenças dos nordestinos, comemorando assim os bons níveis de chuvas do ano anterior, sem imaginar o que estaria por vir anos depois. Em 1905 quando já casados Geraldo e Sá Josefa foram testemunhas de uma das maiores mazelas provocadas pela falta das chuvas, sendo que após a morte do senhor João Piancó que havia morrido de desgosto, viram-se obrigados a saírem daquela fazenda com seus três filhos e irem ganhar a vida em outro lugar, chegando assim ao engenho Ribeira na cidade de capela, no qual permaneceram lá por dezessete anos e a senhora Sá Josefa deu luz a mais três filhos tendo mais duas meninas e um menino, sendo que este menino morre ainda pequeno e o casal fica então com quatro meninas e um menino, uma vez que para a realidade que viviam no campo ter meninas era algo bastante negativo pois a figura feminina para a labuta do campo não servia e não geraria renda.  
            A saída da Família Corumba daquelas terras para o engenho, não nutriu os sonhos da senhora Sá Josefa em conseguir dia melhores para a sua família, logo viram-se vitimas do capitalismo rural que sugava suas esperanças e sonhos a partir da exploração dos usineiros e senhores de engenho. Restava agora apenas o sonho de Sá Josefa para saírem daquela situação de miséria, pois ela apegava-se na esperança de que na cidade haveria espaço para melhoria de vida de sua família assim como podemos observar nessa passagem:
"Na capital, havia emprego decente para as duas meninas mais velhas. Era
nas fábricas de Tecido. Estavam assim de moças, todas ganhando bom dinheiro .. .
Pedro não custaria em conseguir um bom lugar, como ferreiro ou maquinista .. .
Uma outra vida, enfim. Vestia-se melhor, andava-se no meio de gente ... Depois,
tinha assim uma certeza, uma espécie de pressentimento, de que lá as filhas logo
casariam. Isso, as mais velhas. As duas mais novas iriam para a escola. Nem
precisavam até de trabalhar. Caçulínha, que era tão viva e inteligente, bem
poderia chegar a professora ... " (Ç. pp. 27- 28).
Sá Josefa, que tinha um irmão que já morava na capital o escreve falando sobre o desejo de ir morar na cidade, expondo as dificuldades em permanecer no engenho, apresentando seu desejo de adquirir emprego para seus filhos na Capital, tendo na resposta seu irmão, um rebaixo em seu sonho apesar de apresentar uma ideia de que a cidade teria melhores condições de vida para a família de dona Sá Josefa e seu Geraldo, assim como poder observar:
"Aconselhar, não aconselho, que as coisas por cá também não andam
muito boas. Mas que é melhor do que a vida sem futuro aí do mato, principalmente
quando a gente tem a casa cheia de filhas moças, isso até um menino sabe que é.
Se resolverem vir, o trabalho para as duas mais velhas está garantido, que
isso eu mesmo posso arranjar" (Ç. p. 28).
A partir do instante em que a família Corumba se instala na cidade, vemos uma mudança radical no seu modo de vida. Nesse momento percebe-se que o sonho que a senhora Sá Josefa carregava em si, de que a vida na cidade traria mudanças significativas pra vida de sua família, foi se perdendo  ao passo que sua família degradava-se nas péssimas condições de vida a qual aquela família estava inserida forçadamente pela situação daquela realidade. Pra refletirmos sobre as condições de vida da famílias pobres operária da época basta analisarmos as condições das casas descrita da obra de Fontes:
Àquela hora, ainda reinava o mais completo silêncio em casa de Geraldo. Sá Josefa (era assim que a tratava todo o bairro), posto já estivesseacordada, deixara-se ficar sobre as tábuas duras da cama, toda encolhida de frio, debaixo da sua desdobrada miserável coberta de retalhos. O sudoeste soprou mais forte, açoitando a chuva por entre as frestas do telhado. Então a mulher abriu os olhos, dístendeu os braços e as pernas, e murmurou, num bocejo: - Santo Deus! Ainda chove! Como não devem estar estas ruas? Permaneceu ainda uns momentos estirada sobre a enxerga. De repente, lembrando-se das mil ocupações que a esperavam, levantou-se às carreiras, falando consigo mesma: - Virgem Maria! É de hoje que o relógio deu quatro horas!. .. Deixe-me fazer o café, para acordar o pessoal. Apanhou do chão a caixa de fósforo e acendeu o pavio de algodão do alcoviteiro. Uma luz mortiça espalhou-se pelo quarto, mobiliado apenas pela cama de pinho sem verniz, uma cadeira de peroba mal lavrada, e, a um canto, o baú de folha-de-flandres, pintado de verde, com umas florzinhas amarelas. Tão logo se achou vestida, apanhou do chão o candeeiro e foi até a sala da frente para acordar o filho, que dormia numa esteira da tábua, estendida sobre o chão. Mas não teve necessidade de chamá-lo. Vendo-a entrar, Pedro ergueu-se e lhe falou: (Ç. pp. 34). A velha fez-lhe ainda umas perguntas: "se iria mesmo para o serviço; se o largara a febre que desde três dias o minava". Em seguida, atravessou o corredor apertado, a sala de jantar (onde, numa cama de ferro estreitíssima, dormiam as duas filhas menores), e entrou no apertado cubículo a que chamavam a 'cozinha'. Três grandes pedras brutas serviam-lhes de fogão. Pôs alguns cavacos entre elas. Feito o fogo, colocou em cima a velha chaleira que usavam desde o engenho, e onde iria ferver a água para o café.
Estava deitando feijão com farinha e um pedaço de lingüiça na vasilha que Pedro ia levar, quando este se aproximou, o chapéu na cabeça. -Que é isso? perguntou-lhe a mãe, meio surpresa. Não toma nada antes de ir? - A constipação me tirou toda a vontade de comer, respondeu ele secamente. Pode ser que eu compre um pão aí pelo caminho. Pôs a lata sob o braço e foi saindo. Encaminhou-se para o quarto que ficava entre o seu e a sala de jantar. Nalgumas tábuas estendidas sobre quatro caixões de querosene, dormia Albertina, a segunda filha do casal, morena clara, olhos negros e vivos, num
grande corpo bem feito e transbordante de saúde. A um canto, numa redezinha "trançada", de fios brancos e vermelhos, Rosenda ressonava, a dormir profimdamente. Era a mais velha de todas (Ç. pp. 33
- 36).                                                                                             
Além destas condições de subsistência a que estava inserida esta família, a senhora Sá Josefa já percebia a mudança de comportamento de suas filhas numa espécie de pressentimentos já imaginava como seria o fim daquelas belas moças que viria do campo pra cidade assim como vemos na passagem a seguir:

Eu sempre fui a que sou hoje. Vocês, sim, é que mudaram ... Quando a gente morava na Ribeira, não havia passeios toda noite, nem amiguinhas, nem namoros. Mas, lá, vocês eram tementes. Aqui, é que engrossaram o pescoço. Fazem o que bem dá na veneta, andam acima e abaixo pelo mundo, como bois soltos no pasto, e depois, pai e mãe que se calem ... Ah! Quanto eu me arrependo de ter deixado o meu Engenho!... Foi aqui que vocês deram pra reclamar o trabalho, se lastimando a cada passo e cada hora. Mas eu sei porque é isso. É porque o tempo é pouco pra tratar de vestidinhos, de sapatos, e mais isso e mais aquilo! Agora, querem viver que nem umas bonecas, de laçarote no cabelo e cara lambuzada de pintura! (Ç. p. 63).

 A vida das mulheres naquela momento não era fácil  e se tratando de mulher pobre e operaria então, mesmo buscando vencer pelo trabalho as filhas do casal Corumba, se viram a todo instante seduzidas e tentadas por homens que não estava nenhum pouco afim de compromisso, uma vez que as pobres moças sonhadoras que almejavam crescer viram na figura de um coronel, de um médico e de um advogado a saída de todos os transtornos, sendo  a partir de então a entrada daquela família a um calabouço sem saída chegando ao fim do poço e da desgraça e injuria por parte daquela família que viram suas filhas entregues a prostituição, uma filha morta devido as péssimas condições de vida em torno das fábricas e o filho preso. O destino da família Corumba foi fruto do meio a que estavam inseridos, e não tendo mais nada a fazer na cidade o casal vê-se obrigado a voltar para a Ribeira e a senhora Sá Josefa que havia sonhado uma vida digna pra seus filhos na cidade volta pra o engenho na mais pura desilusão e desencanto com a modernidade.


























 REFERÊNCIAS

FILHO, Barreto. "Os Corumbas ". In: Jornal Literatura. Rio de Janeiro, (I, 3) 5/8/1933.

FILHO, M. Paulo. "Os Corumbas". In: Correio da Manhã. Rio de Janeiro, 18/8/1933.

FONTES, Amando. "Discurso de Amando Fontes na Sociedade Felipe de Oliveira". In: Jornal Literatura. Rio de Janeiro, (I, 17) 5/4/1933.

Silva, Roberto José da.  Inferno Urbano : estudo do espaço em Os Corumbas, de Amando Fontes I Roberto José da Silva. -- Campinas, SP : [ s.n.], 2005.

Novas esperanças para Campo do Brito

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Mais um ano que passa, é vida que segue e a busca de todos pelo progresso e por dias melhores persiste, devemos continuar vigilantes e crentes em dias melhores. o ano que passou foi para Campo do Brito um marco na história e na construção de uma nova história, fomos testemunha da maior resposta da democracia já vivenciada em nosso município desde a nossa emancipação politica, 2012 foi o ano do centenário, centenário este que veio com profundas mudanças no campo politico e administrativo de nosso município, à antiga aliança politica formada por lideranças locais e experientes políticos conservadores que a quase quatro década detinham o poder e O passavam a quem desejassem ou fosse conveniente, sendo este poder destituído pela vontade de mudança e sonho de dias melhores, será apenas um sonho sem perspectiva de realidade? ou será um sonho real?
Este ano que passou Campo do Brito completou cem anos de emancipação politica independente à Itabaiana, por pouco este marco não passara despercebido para maioria da população, não fosse pela iniciativa de algumas instituições de ensino de nossa cidade, ou algumas declarações postadas nas redes sociais na internet dias antes o feriado do dia 29 de outubro, e sendo assim me vem à pergunta, será que somos conscientes da importância desta data para o nosso município e para nós como munícipe? Será que somos cientes dos motivos pelos quais levaram O padre Freire e seus aliados, assim como classificou Adalberto Fonseca, os lideres da empreitada pela emancipação, ter buscado tanto esse feito? O que a emancipação politica significava para aquela população, para o padre e aquela liderança politica que acabava de nascer em nosso município? e o que está presente na nossa história e imaginário sobre este feito? chegou a hora de nos envolvermos um pouco mais com os rumos da nossa cidade, devemos participar mais da vida politica desta cidade que se desenvolve a passos largos, que este primeiro ano após o centenário seja uma nova data para grandes acontecimentos como o do 29 de outubro de 1912.



 

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

RESPOSTAS DO LAISSEZ-FAIRE


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Após as revoluções industriais ocorridas na Inglaterra no século XVIII, emerge no mundo ocidental um sistema comercial dinâmico e diferenciado do mercantilismo vivenciado entre as colônias e as metrópoles nos primeiros momentos após o período de transição da economia feudal para mercantilista.
O sistema econômico do ocidente passa por grandes transformações e nesse momento surgem os questionamentos, quanto ao envolvimento do governo na econômica, surgindo duas correntes das quais até os dias de hoje vemos contestações. Afinal a economia precisa ou não precisa da intervenção governamental? Liberalismo ou não liberalismo econômico. Envolvendo-se com esta temática Laura Valadão de Matos em sua obra “As razões do laissez-faire”: uma analise as criticas ao mercantilismo e da defesa da liberdade econômica na riqueza das nações, faz um excelente apanhado de informações acerca deste tema, tomando como fonte principal do seu trabalho as ideias e publicações de um dos maiores estudiosos do sistema econômico, Adam Smith.
Matos busca repostas para o “laissez-faire”, expressão-símbolo do liberalismo econômico, na versão mais pura do capitalismo, de que o mercado deve funcionar livremente, sem interferência. Filosofia esta que se tornou dominante nos Estados Unidos e nos países ricos da Europa durante o final do século XIX até o início do século XX. No primeiro momento Laura Valadão de Matos atribui este enfoque a Smith, por ter sido ele o primeiro a dizer que a mão invisível do mercado seria suficiente para controlar todas as relações comerciais e sociais dentro dos grupos sem a necessidade de intervenção da mão visível do Estado, atribuindo a este apenas o papel de garantia da ordem e administração da justiça. De imediato Mota diz que ao longo do tempo, diversos esforços foram empreendidos no sentido de corrigir e qualificar esta visão. As inúmeras funções sociais e econômicas atribuídas por Smith ao Estado na Riqueza das Nações (doravante RN) foram enfatizadas, as suas posições políticas foram analisadas e a compreensão dos especialistas refinou-se consideravelmente. No entanto, a visão “canonizada” em pouco se modificou.
Valadão, num primeiro momento apresenta a visão de Smith, sobre o sistema mercantil, atacando de forma dura, a forma pela qual o Estado busca intervir na balança comercial, agindo de forma protecionista sem dar o devido espaço para a competitividade de produção e comercialização, ora restringindo as importações e incentivando as exportações, ora incentivando as importações e restringindo as exportações quando o assunto era matéria prima, muita das vezes proibindo até mesmo que alguns artesãos pudesse levar sua mão de obra para outros lugares, com receio de que países concorrentes pudessem apropriar-se deste conhecimento. A autora faz questão de expor a visão favorável de Smith ao sistema de liberdade natural e entre as várias criticas ao sistema mercantil, ela aponta duas entre tantas, em que ele ataca de forma consistente este sistema mercantil protecionista, sendo uma das criticas voltada para questão econômica e a outra mais voltada pra questão filosófica.
Na apresentação de Smith, sobre O “obvio e simples sistema de liberdade natural”, diz que se o Estado não estivesse presente no mercantilismo numa predominância de restrições, privilégios, concessões, subsídios, incentivos, etc. tudo estaria ligado por uma liberdade natural, ou seja, a liberdade natural é essência. Para Smith Todo homem, desde que não viole as leis de justiça, é deixado perfeitamente livre para buscar seu próprio interesse do seu próprio jeito, e para colocar o seu empenho.
e o seu capital em concorrência com aquele de qualquer outro homem, ou ordem de homens. Partindo deste pensamento Smith coloca que o Estado não seria neutro ao sistema, cabendo-lhe obrigações essências para o bom funcionamento da ordem que seria: a garantia da defesa nacional, a administração da justiça e a execução de obras públicas que, apesar de importantes para a sociedade, não seriam empreendidas se deixadas ao encargo das decisões individuais entre elas, podemos citar como relevantes, a educação e as obras de infraestrutura. Sendo assim segundo Smith teríamos um estado atuante, sem devidas interferências ditando onde, quando e como os indivíduos deveriam agir no mercado.
            Fazendo alusão a hierarquia econômica presente no Livro II de Smith, Valadão aponta o pensamento dele sobre a forma do capital investido. Para Smith se um valor X for aplicado de forma igualitária em diversos setores da economia, como Indústria, agricultura, e serviços e comércio, o valor investido na agricultura geraria mais trabalho e um maior rendimento ao capital investido. Como assim podemos observar no trecho que se segue:
Nesta hierarquia, a agricultura ocuparia um lugar de destaque uma vez que para Smith, “[n] nenhum capital de igual dimensão (qual capital) coloca em movimento uma quantidade maior de trabalho produtivo do que aquele do fazendeiro (farmer)(...)” (WN, II, v:363), ou adiciona mais “(...) ao valor do produto anual da terra e do trabalho do país,[e] à riqueza real em rendimento de seus habitantes.” (WN, II, v: 364). 16 Assim, ele conclui que “(...) [d]e todas as formas nas quais o capital pode ser empregado, esta é de longe a mais vantajosa para a sociedade.” (idem). O trabalho produtivo na agricultura seria capaz não somente de repor um valor igual ao capital que o empregou acrescido da remuneração do capitalista, mas reproduziria um valor muito maior — que permitiria também o pagamento de uma renda para o dono da terra (WN, II, v: 364). A seguir nesta ordenação encontrar-se-ia a manufatura (WN, II, v: 366) – que reporia o capital adiantado à produção com lucro, mas seria incapaz de gerar uma renda da terra. Depois viriam as atividades ligadas ao comércio que Smith subdivide em três, a saber, comércio doméstico (home trade), comércio externo de consumo (foreign trade of consumption), comércio externo de transporte (carrying trade) e, utilizando os mesmos critérios, ordena-os nesta ordem (WN, II, v: 371-2). 1

Smith alega que seria melhor para uma distribuição de renda da população, se as aplicações avançassem como na agricultura para o comércio externo apenas na medida em que as oportunidades de emprego fosse se esgotando nos setores mais produtivos da economia, pois assim os lucros voltaria a partir de novos campos de trabalhos através das exportações após o mercado interno está bem atendido. Sendo que o capital investido geraria um maior numero de empregos primeiramente na agricultura, seguido da manufatura e por viria o comércio.
            Quanto à politicas mercantilistas, Smith diz que o estado deve rejeitar a ideia enraizada no sistema mercantilista de canalizar para o comércio externo grande parte do capital do país, investido em produtos domésticos e em comércio de transporte. uma vez que os governos voltam-se para a balança comercial como se fosse o único meio pelo qual possibilitaria a riqueza do país na simbologia de aquisição de metais preciosos, e com isso o mercado interno ou consumo doméstico tornou-se subsidiário ao comércio externo. Smith ainda faz menção de que a visão preponderante do comércio externo sobre o interno e da cidade sobre o campo não seja algo propriamente criado pela politica mercantilista, pois segundo ele desde a queda do império Romano, uma serie de fatos e instituições fez com que a agricultura se tornasse, aos olhos dos indivíduos, desvantajosa em relação às atividades desenvolvidas nas cidades. Motivos estes oriundos da boa administração da justiça e das instituições e as garantias do direito a propriedade privada que se originou nas cidades antes do campo.
            Pois assim o empenho da indústria que visa algo além da subsistência, foi desenvolvido na cidade antes de ser praticado no campo, permanecendo o campo pobre e mal desenvolvido enquanto que as cidades enriqueciam, criando assim uma visão negativa do campo, que sem encontrar comercio favorável para escoar os produtos oriundos das cidades, buscou criar mercados externos criando também uma visão negativa do comércio interno. Na visão de Smith essa forma de minimizar o comércio interno e exaltar o comércio externo, de colocar em primeiro plano a manufatura em relação à agricultura, foi uma forma pela qual o sistema desviou de um emprego melhor para um emprego pior, ele conclui que o poder de troca anual ao invés de aumentar, conforme a vontade do legislador será necessariamente reduzido por qualquer regulação do gênero.
            Sendo assim estas politicas segundo a Smith, reduziria a concentração de riqueza da nação ao contrario do que pensava a politica mercantilista. Pois a economia fica presa às manobras do governo impedindo que a livre iniciativa e os investimentos possam aumentar a riqueza de seus investidores e consequentemente a riqueza do Estado longe dos dogmas da mão visível. Para Smith O curso natural do desenvolvimento das nações ou “progresso natural da opulência” aquele que vigoraria na ausência de restrições, leis, costumes ou outros tipos de interferências que distorceriam as decisões alocativas dos agentes — se daria, portanto, da seguinte forma: “(...) a maior parte do capital de qualquer sociedade em crescimento é direcionada em primeiro lugar à agricultura, depois à manufatura e por último ao comércio externo.” E esta, como vimos, seria a sequência que — ao respeitar a hierarquia de produtividade do capital — maximizaria a riqueza.
            Vimos ainda nesta obra, o que diz Smith quanto ao protecionismo das politicas mercantilistas, Smith fala que estas instituições politicas acabaram por solapar benefícios naturais, em termos de sensação de segurança, liberdade e independência — que levariam as pessoas a preferirem naturalmente investir na agricultura a investirem nas manufaturas, e as atividades relacionadas ao mercado externo, às menos “produtivas” dentre as diversas aplicações de capital, se tornaram prematuramente estimuladas. O curso natural foi, assim, “(...) inteiramente invertido” (WN, III, i: 380) e, na avaliação de Smith, a ordem que prevaleceu historicamente seria uma (...) ordem não natural e retrógrada” (idem) e socialmente menos desejável por diminuir as possibilidades de crescimento da riqueza. 
            O sistema de liberdade, que Smith defende é a correção da inversão de fatores que tende a priorizar as manufaturas o comércio externo, propondo através do sistema natural o crescimento relativo do setor agrícola. Neste ambiente institucional, as escolhas que favoreceriam individualmente os agentes seriam compatíveis com aquelas que maximizam a opulência das nações. Este é, talvez, o principal argumento arrolado na RN por Smith na sua defesa da liberdade natural. Smith traz um exemplo que apresenta a superioridade do sistema natural em relação ao sistema mercantil, para ele o desenvolvimento da América quando restrita a poucas manufaturas seria o ideal para que assim todos pudessem observar que América havia progredido e a Europa estacionada presa a suas manufaturas.
            Quanto ao assunto “justiça e Liberdade”, Smith esclarece que justiça e igualdade não podem ser entendidas na mesma ordem como coisas parecidas, pois para ele, o conceito de justiça não envolve a noção de igualdade, pelo contrário, ele remete a desigualdade de riquezas às diferenças naturais existentes entre os indivíduos no que se refere ao seu empenho, diligência e suas habilidades. 28 E seria justamente a existência de grandes desigualdades de fortuna que tornaria, segundo Smith, necessária a existência do governo. Este teria a incumbência de impedir que a busca auto interessada dos pobres os levassem a prejudicar os ricos que através de seu empenho e esforço acumularam mais propriedade. Assim, garantir a justiça envolveria, proteger, tanto quanto possível, todo membro da sociedade de injustiça e opressão por parte de todos os seus outros membros.
            O significado de justiça no campo da politica para Smith significava tratamento imparcial igualitário para todos, pois para ele ninguém é obrigado a suportar as restrições e impedimentos em algumas situações para apenas uma parcela dos envolvidos na disputa, e sendo assim ele discorre da seguinte forma: “(...) Ferir em qualquer grau os interesses de qualquer ordem de cidadãos, por nenhuma outra razão que não a de promover aqueles de outra ordem, é evidentemente contrário àquela justiça e igualdade de tratamento que o soberano deve a todas as diferentes ordens de súditos” (WN, IV, vii: 654).
            Não podemos deixar de citar aqui, que apesar de Smith defender um sistema natural, ele não esquece que para o bom funcionamento o Estado teria que estar presente, controlando e garantindo a continuidade de alguns serviços que só o Estado pode ser capaz de gerir, tendo os homens dentro deste processo natural de agirem de forma ética dentro do processo de comercialização, pois assim já mencionado que o homem na constante busca pela riqueza é mais obvio pensar na equidade do que na honestidade. Assim, não somente em termos econômicos o sistema de liberdade natural parecia, para Smith, preferível ao “mercantil”, ele seria também mais justo.
           
REFERENCIAS
Revista de Economia Política, vol. 27, nº 1 (105), pp. 108-129, janeiro-março/2007

MATTOS, Laura Valladão de, as razões do laissez-faire: uma análise
do ataque ao mercantilismo e da defesa da liberdade econômica na Riqueza das Nações.

sábado, 8 de dezembro de 2012

CONTEXTO POLITICO AO SUICÍDIO DE VARGAS

COMENTÁRIO DO CONTEXTO POLITICO AO SUICÍDIO DE VARGAS.
Como proposta de atividade à distância, da disciplina de História do Brasil III do curso de História da Universidade Federal de Sergipe, coordenada pelo professor Antônio de Araújo Sá, nos foi exigido que fizéssemos uma analise sobre a carta histórica escrita por Getúlio Vargas no dia de sua trágica morte, observando o contexto no qual o presidente das varias vertentes estava inserido após a posse do seu ultimo mandato em 1951.
Começo meu comentário sobre esse período tão importante de nossa História analisando o cenário politico após 1945. Depois de muitas pressões feitas por vários setores organizados da sociedade na década de 1940, o presidente Getúlio Vargas, foi obrigado a convocar eleições para o ano de 1945 através de Ato institucional, sendo ele deportado do poder pelas forças que havia o colocado após a revolução de 1930, ou seja, pelos militares, nesse momento imaginavam ter acabado com a era Vargas, pensando que a partir daquele momento apagaria da memória do povo Brasileiro e do cenário politico o nome do mesmo. Puro engano, o marketing do presidente conseguia sua sustentação no poder, através de uma imprensa institucional a figura de Vargas era criada como o pai do povo Brasileiro, como o responsável pelo desenvolvimento industrial, como o homem que conseguiu criar melhores condições para o trabalhador, através das leis trabalhistas e dos contratos.
A verdade é que Vargas sempre buscou trazer as massas pro seu lado, e para isso burlava qualquer forma de veiculação de informação que pudesse colocar em dúvida seus feitos. Até 1945 o DIP desempenhou bem esse papel, a mídia brasileira até esse período era o retrato do que queria Vargas, construir uma noção de povo que trabalha e honra sua família. Após todas as tensões dos anos que antecederam 1945, Vargas por se tratar de um politico muito inteligente, ao abrir as portas do Estado Novo para ares mais democrático, voltando à economia para a entrada do capital estrangeiro, busca aproximar-se dos movimentos de massas e ao mesmo tempo ganhar espaço dentro da nova conjuntura internacional, atraindo investimento internacional após uma década de economia nacionalista. Este ar democrático que Vargas criara ao permitir à liberdade de imprensa, a criação de partidos políticos, a entrada de capital estrangeiro e a aproximação com os movimentos sindicais foi à gota d’agua para sua saída do governo naquele momento e garantir a sua permanência na memória dos brasileiros ficando pra sempre na História.
As eleições realizadas no fim de 1945 traria surpresa a todos que contavam com o fim da vida politica de Vargas, pois naquele momento que acabara de sair deportado do governo da republica, consegue se eleger como senador representando o Rio Grande do Sul e também com seu apoio consegue fazer eleito, o general Eurico Gaspar Dutra, muito pouco conhecido porem por ter sido Vargas seu cabo eleitoral consegue uma vitória convincente, obtendo expressiva votação, deixando pra trás seu adversário o brigadeiro Eduardo Gomes. A partir de então não é difícil de imaginar o quanto Vargas havia enraizado na politica apesar do seu momento ditatorial. Passados os quatros anos de mandado de Dutra, começam as cogitações do nome para a sucessão da cadeira de presidente da republica.
E novamente surge o nome de Vargas como mais indicado para o pleito em 1950, saindo ele eleito para governar o país de 1951 a 1954. Nesse período o país conhece outra face do presidente que já fora revolucionário, constituinte e ditador, o país agora conheceu um governo democrático, popular de carácter mediador de conflitos entre grupos de interesse rivais. Este mandato foi para Vargas um período de constantes tensões, na qual a politica brasileira a partir daquele momento passaria por constantes mudanças em virtude dos interesses dos grupos aliados e opositores ao governo.
Pela conjuntura dos fatos a tomada do poder pelos militares era inevitável naquele momento, sendo Vargas inteligente bastante para adiar este acontecimento, que viera ocorrer somente 10 anos depois do dia 24 de agosto de 1954, saindo da conjuntura politica como vitima, dando sua vida pela libertação e melhores condições de vida do povo brasileiro, passando de culpado a coitado. Vargas ficou pra História assim como ele havia desejado e planejado ficar. Ser lembrado como o Homem responsável pelas mudanças sócias econômicas ocorridas em nossa republica, como pai dos pobres, como percussor do desenvolvimento progressista brasileiro o pai da nação que deu sangue em nome do povo assim como podemos observar nessa passagem retirada de sua ultima carta direcionada ao povo brasileiro.
Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo de quem fui escravo não mais será escravo de ninguém. Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue será o preço de seu resgate. Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora vos ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na história.
REFERÊNCIAS:
REGINA, Marion Stremel. BATISTA, Niltonci Chaves: História do Brasil III. Ponta Grossa 2011.
FARIA, Antonio Augusto e BARROS, Edgard Luiz de. O retrato do velho. São Paulo: Atual, 1984, p. 210-211.



domingo, 18 de novembro de 2012

Resumo (Escravidão, Liberdade e Resistência em Sergipe: Cotiguiba 1860-1888)



RESUMO

            Este resumo é instrumento de avaliação à distância da disciplina de Temas de História de Sergipe II, coordenada pelo professor Lindivaldo, na qual faço uma abordagem sobre os principais pontos da obra de SHARYSE Piroupo do Amaral (Escravidão, liberdade e resistência em Sergipe: Contiguiba, 1860-1888). No qual tenho como objetivo fazer uma reflexão sobre o exposto nesta publicação de tamanha significância para a historiografia sergipana em especial para o período de grande ascensão econômica do nosso Estado, advindos dos engenhos de açúcar e a força do trabalho escravo.
Sharyse foi feliz em seu trabalho, quando de inicio buscou fazer um apanhado bibliográfico sobre a temática do negro e a sua relação com os senhores de engenho no Brasil e na América, trazendo o pensamento de grandes estudiosos desta temática, com visões semelhantes e opostas quando se tratando da questão da passividade negra e a vida nos engenhos e suas contribuições para a formação das famílias e a continuação cultural através das resistências camufladas na condição do paternalismo aceito pelo negro como forma de negociação para garantir melhores condições de sobrevivência, apresentando também as visões de pesquisadores que se opõem a Gilberto Freire, chegando a conclusões que não era nada ameno a vida dos escravos no Brasil nos engenhos, e que as condições de vida destes escravos variavam muito de acordo com sua atividade econômica, uma vez que a vida de um escravo urbano difere muito dos escravos dos engenhos e cuidadores da lida do gado.
Neste presente trabalho Sharyse, de forma inteligente faz um apanhado excelente da historiografia brasileira voltada para a questão do negro antes que adentre na temática no nordeste em especial em Sergipe na Contiguiba no período de 1860 a 1888, facilitando assim o entendimento do leitor da história local a partir de um paradigma maior que é a questão do trabalho escravo no Brasil. Em seu trabalho ela fala sobre as poucas fontes produzidas em Sergipe voltadas para esta temática, mas não deixa de apresentar as ideias de Felte Bezerra, Ariosvaldo Figueiredo e Maria da Glória de S. de Almeida, apresentando trechos que os aproxima das concepções de Freire quando diz que os engenhos da província sergipana tratava com tal diferença seus escravos em comparação com engenhos de outros estados tidos como exemplos os engenhos do recôncavo Baiano assim como podemos perceber na seguinte passagem copiado do referido trabalho:
Mal grado essas reações coletivas, a zona canavieira de Sergipe.
será uma das regiões, no Brasil, em que poderemos aceitar a
existência daquele tratamento relativamente humano, do senhor
para o escravo, de que fala Gilberto Freyre, ao estabelecer paralelo
entre o tratamento em muitas regiões escravas do Brasil e aquele
dado pelos estadunidenses. 14 (Felte Bezerra)
            percebemos ainda o reforço da passagem acima, quando Sharise menciona a citação feita por Bezerra quanto ao documento Memória sobre a Capitania de Sergipe, escrito em 1808 por Dom Marcos de Souza, vigário da Freguesia do pé do Banco atual cidade de Siriri, uma vez que contribui ainda mais para fortalecer a ideia de que se tinha cuidados mais brandos para com os escravos em Sergipe:

com vinte cativos fazem mais açúcar do que os do Recôncavo com
cem escravos. São mais bem tratados: nutridos com alimentos
saudáveis (feijão, vegetais, milho) enquanto no Recôncavo era a
carne salgada do Rio Grande [...] senzalas cobertas de telha,
enquanto eram de palha no Recôncavo. Vestem-se com algodão
manufaturado pelas escravas; casam-se na mesma família ou em outra.

            Além dos escritores acima já mencionados, tiveram envolvidos ainda com a temática da escravidão em Sergipe segundo Sharyse; a Professora Maria Nely dos Santos, Professor Lourival Santos, ambos consecutivamente tratando da questão abolicionista e da resistência dos escravos enfocando para a formação de quilombos, a criminalidade e as constantes agressões físicas, temas estes também analisados e abordados por Amâncio Cardoso, levando em consideração os anúncios nos jornais Recopilador Sergipano, O Raio e Jornal de Aracaju, e de relatórios de presidentes da província, objetivando demonstrar que os escravos resistiram à escravidão. Podemos perceber que após a excelente abordagem inicial adentrando para os acontecimentos em torno do setor açucareiro no Brasil do século XVIII ao final do século XIX, Sharyse sabiamente pode fazer um relação entre a realidade em Sergipe e a realidade nas demais províncias brasileiras envolvidas com a produção da cana de açúcar, para que assim pudesse desenvolver a sua temática que é compreender o comportamento dos escravos e libertos nas últimas décadas da escravidão na zona da Cotinguiba, a região mais próspera da província de Sergipe, dominada pela cultura da cana-de-açúcar. Após a segunda metade do século XIX, quando a escravidão brasileira começou a entrar em colapso, como os escravos sergipanos repensaram a escravidão? Quais as estratégias utilizadas para a obtenção da alforria? Nesse processo, quais as relações estabelecidas com os senhores? Havia algum tipo de solidariedade e identidade entre o escravo e o liberto? Quais as expectativas do escravo e do liberto em relação à liberdade? Quais as relações entre liberdade e trabalho?
            Sharyse em seu trabalho volta-se para as ultimas décadas do século XIX, abordando com enfoque as transformações ocorridas na segunda metade do século XIX que vão contribuir para modificar as relações entre senhores e escravos. Primeiramente, o fim do tráfico transatlântico de escravos para o Brasil, que trouxe como consequência a dificuldade na reposição da mão-de-obra e a nacionalização da escravatura. Em segundo lugar, a promulgação da Lei do Ventre Livre e seus efeitos: o acirramento das tensões cotidianas entre senhores e escravos, em um momento em que o campo jurídico surgiu como elemento demarcador dessas relações. Pois, como mostrou Sidney Chalhoub, a Lei de 1871, ao legitimar a formação do pecúlio e a compra da alforria pelo escravo, tirou dos senhores a principal base da política de dominação paternalista, que visava tanto à obediência do escravo, quanto a formação de dependentes. A partir das brechas da Lei de 1871 as ações de liberdade se intensificariam. Nestes processos cíveis, os escravos, através de seus curadores – muitos deles abolicionistas - acionavam a Justiça de forma a pressionar os senhores para que estes lhes concedessem a liberdade.
            Após as considerações apresentadas de inicio sobre a temática da cana de açúcar e a mão de obra escrava, Sharyse busca descrever as causas do desenvolvimento da cana de açúcar na região da Cotiguiba apresentando a importância das vias fluviais através das seis bacias que banham o estado e a excelente qualidade do solo encontrada naquela região como assim podemos observar: A região da Cotinguiba, tal como o Recôncavo baiano, possuía os solos de massapê, argilosos, escuros e pesados, que retinham bem a umidade e era preferidos para o cultivo da cana-de-açúcar, a cultura mais rentável no período colonial. Lá eram encontrados também os “salões”, solos avermelhados, mais leves que o massapê, mas também muito férteis. A região tinha o transporte facilitado pela navegação dos grandes rios e de seus numerosos afluentes durante a maré cheia. Numa época em que existiam poucas estradas - e as que existiam frequentemente eram alvo de assaltos ou causas de acidentes, devido ao péssimo estado, o transporte fluvial constituía importante fator de produção. A união desses três elementos - solo, clima e rios navegáveis - fez com que a Cotinguiba se tornasse o principal núcleo produtor de açúcar em Sergipe.
            Dentro da temática Sharyse coloca sobre questionamento o crescimento do numero de engenhos em Sergipe nos séculos XVIII e XIX, questionando a origem do capital para o investimento nos engenhos para produção de açúcar, levando em consideração a falta de informação que comprove a origem do mesmo, baseando assim no que disse Josué Subrinho argumentando ser provável que com o novo “boom” do açúcar, no final do século XVIII, as terras propícias à cultura da cana tenham sofrido uma valorização, e que os agricultores sergipanos tenham vendido parte dessas terras, aplicando o capital adquirido com a venda na montagem de engenhos. Esse fracionamento da terra explicaria aquele crescimento. Sendo que para Maria da Glória Almeida o crescimento do número de engenhos pode ser explicada pela subdivisão por herança; pela doação ou venda de parte das terras das posses maiores; ou ainda pela baixa tecnologia - que limitava a expansão dentro de cada engenho, obrigando os senhores a montarem novos engenhos quando havia aumento de produção.
            Fica evidente aqui ainda que apesar do desejo de Sergipe tornar-se independente economicamente da Bahia, este desejo não fora consumado uma vez que a Bahia era quem dispunha das condições para escoamento da produção, sendo assim um intermediário entre a produção de Sergipe e os mercados exteriores. Observa-se ainda que após todas as transformações e expectativas em torno do mercado açucareiro o auge da economia açucareira na região ocorrera por volta de 1850, momento de alta no preço do açúcar. Por esta época se multiplicavam os núcleos urbanos da região da Cotinguiba, que se tornava a região mais próspera da província. Laranjeiras e Maruim eram os dois mais importantes núcleos urbanos, por seus portos o açúcar era escoado, bem como saíam e entravam alimentos e outras mercadorias. O desenvolvimento de um e de outro município ocorrera paralelamente ao crescimento da economia do açúcar, e de simples vilas na primeira metade do século XIX, tornaram-se importantes cidades, residência dos políticos, comerciantes e intelectuais sergipanos.
            Não posso deixar de destacar, a visão que o negro tinha de sua vida e sua forma de existência, que fica claro na ideia de Sharyse que não condizia com aquilo escrito por Dom Marcos vigário do Pé do Banco como observamos no inicio deste resumo, insinuando que os escravos daqui tinham uma vida mais branda do que a dos escravos dos estados vizinhos, uma vez que não é isso que mostra Sharyse ao observar e escrever que em Sergipe, as primeiras décadas do século XIX – momento conturbado politicamente devido à independência do Brasil e às disputas pelo poder decorrentes da emancipação da província perante a Bahia - foram marcadas pelas revoltas de escravos, pelas fugas e formação de quilombos. Mas, do ponto de vista senhorial, adotado pelo vigário, e em comparação com o tratamento dispensado pelos senhores baianos, talvez a informação não fosse toda ela incorreta. Sergipe era um tradicional produtor de gêneros de subsistência, o que explicaria a abundância de cereais na dieta dos escravos, diferentemente do Recôncavo baiano, que lutava contra a escassez de alimentos. Por outro lado, mais pobres, com uma produção de açúcar ainda incipiente, os senhores sergipanos teriam motivos para incentivar o cultivo de roças pelos escravos, que assim bancavam, eles mesmos, parte de sua alimentação. A pobreza também explicaria o incentivo aos casamentos e a reprodução natural de seus escravos.
            Sheryse lembra que Sergipe por ter sido um dos últimos estados do Nordeste a entrar no sistema produtivo açucareiro usando-se de mão de obra escrava, também foi um dos últimos a efetivar a abolição. Segundo Subrinho em relação à redução da população escrava de Sergipe, ele apontou que no período entre 1873 e 1886, ainda era mais fácil para um escravo morrer do que conseguir a alforria. Comparando as taxas de Sergipe com as de outras províncias nordestinas, analisadas por Slenes, ele afirma que Sergipe detinha a menor média de alforrias do Nordeste, estando abaixo, inclusive, da média nacional. Subdividindo este período em dois, o autor percebeu que no primeiro, de 1873-1882, na Cotinguiba morreram 2.100 escravos, enquanto foram alforriados apenas 875. Já no período de 1882 a 1886, foram alforriados 1.258 escravos, contra 693 mortes.
            Sendo que somente a partir de 1886 o número de cartas de alforria tem um crescimento significativo, algumas concedidas de forma onerosa outras gratuitas, observando Subrinho que muitas poderiam estar sendo cedidas por troca de contratos de trabalhos ou serviços ou mesmo em resposta a desagregação do escravismo. Outro ponto importante abordado por Sharyse é a relação entre a insistência dos senhores de escravos em não garantir a liberdade já promulgada na lei do ventre livre, insistência esta apoiada na interpretação da lei na qual deixa o filho do escravo menor de 21 anos sob a tutela e cuidados dos senhores de escravos sendo assim ele o mesmo escravo quanto seus pais e para bem exemplificar Sharyse traz a passagem da carta registro de Joanna Maria de Meneses Barreto expondo sua vontade de forrar o mulatinho Agripino:
Dentre os bens que livremente possuo é bem assim um mulatinho
de nome Agripino de ventre livre [...] de idade de um mês e meio,
filho natural da escrava Leonôr, cujo mulatinho pela estima que lhe
tenho lhe dou a liberdade da condição dos 21 anos conforme marca
a lei acima mencionada, no valor de cem mil réis que serão levados
em minha terça[...]
            Vejamos que a partir de então as relações de oposição entre senhores e escravos permanecem da mesma forma, uma vez que os senhores detinham-se da lei para prolongar a escravidão de seus tutelados enquanto que os escravos e livres faziam esforços e tentavam a libertação dos seus através da compra de alforrias. Outra forma de se conseguir a alforria era através do fundo de emancipação, sendo que apesar de em um todo geral o fundo não ter conseguido forrar um numero expressivo assim como pretendido, em Sergipe os números do fundo faram significantes, uma vez que na região da Cotiguiba Segundo os dados de Subrinho, o fundo foi responsável, ao menos em parte, por 38,14 % das alforrias onerosas da província entre 1873-1886. Em muito dos casos os escravos pagavam parte do pecúlio e o fundo arcava com restante para aquisição da alforria.
            Outro ponto que não pode passar despercebido é a questão da corrupção diante ao fundo de emancipação, uma vez que Sharyse aproveita a denuncia de Francisco José Alves para transpor a sabedoria dos senhores de engenhos, no momento de se fazer a devida classificação para concessão Alforrias, assim como podemos observar na denuncia de Francisco José Alves: A lei de 28 de Setembro de 1871, nesta província, é letra morta; aqui se inverte [sic] todos os dias a ordem da classificação dos escravos; arreda-se da classificação aqueles que estão na primeira classe, para dar-se preferência a outros que estão na quarta e quinta classe, e que pertencem a senhores favorecidos da fortuna, que por esta razão vão aproveitando bom dinheiro por escravos velhos e inutilizados que eles tinham obrigação de os sustentar, em virtude da lei já citada. Isso é mais uma forma de demostrar o apego dos senhores Sergipanos ao sistema escravista. Sendo assim apresento minha visão desta luta entre a liberdade e o interesse dos senhores pelos escravos baseando-me em SCHWARTZ, que apesar dos negros estarem vivendo num época sem oportunidade e se espaço dentro da sociedade, eles mesmo assim preferiam a liberdade pagando por ela, ao invés da escravidão, ou seja, não era nada amena a vida dos escravos nas senzalas, assim como havia citado antes Gorender que defendia que a violência era inerente ao sistema e o escravo era visto, nas relações sociais, apenas como objeto. Chega a afirmar que a única forma de humanidade dos cativos no sistema escravista era através do crime: fugas, rebeliões e atos violentos dos escravos.
            Já no período pós-abolição, observamos as citações de desprezo e de insignificância do negro como homem livre, atrelados ao julgo de preguiçoso e inútil, sendo que o negro neste momento de transição ainda não haveria assimilado que o ser livre não condizia ao não querer trabalhar, situação essa que agravou o sistema econômico e levou muitos senhores a um estado de tal preocupação com a escassez da mão de obra que afetava muito a lavoura. Havia critica por todo lado quanto à liberdade concedida aos negros, pois estes havia tornados ócios, sendo que muitos senhores buscaram criar leis que obrigassem os negros terem um contrato de trabalho, tendo como consequência se não o tivesse a prisão. Essa era uma forma de trocar os domínios do senhor pelo domínio da policia. Sendo que apesar da qualificação dada aos negros de ócios e preguiçosos nem sempre esta afirmação poderia ser considerada como um todo, pois segundo Subrinho, na concepção dos senhores sergipanos, era considerado ócio qualquer forma de subsistência que não o trabalho intenso e regular nas grandes propriedades, por isso se discutiu meios de diminuir as alternativas de subsistência dos libertos. Pois assim diminuindo as alternativas de subsistência dos negros estes seriam obrigados a voltarem para a lavoura.
           Apesar desta visão negativa, da relação negro livre e senhores de terras no período que compreendeu o pós-abolição no território Sergipano, podemos observar alguns exemplos que poderiam ser seguidos pelo restante dos senhores de engenhos da província, mesmo sendo pouco os casos, Sharyse tem o cuidado expor a fala de Francisco Alves noticiando os experimentos do trabalho livres, apontando para o experimento do major Vicente de Oliveira Ribeiro que, segundo Alves, herdara metade do engenho Varzinhas e oito ou dez escravos. Conseguiu aumentar a produção de açúcar devido ao aluguel de homens livres para o plantio e para a moagem da cana. Além disso, “não querendo lutar com a dificuldade de trabalhadores incertos, morando uns aqui, outros acolá, transformou as antigas senzalas do engenho Varzinhas, em pequenas casas aceiadas [sic], para aqueles trabalhadores que quisessem morar na fazenda”, dando tarefas diárias a eles e às suas mulheres e filhos. E para finalizar este meu resumo baseado nesta excelente obra de Sheryse, colo aqui o que disse Alves defendendo o trabalho livre sem tortura e maus tratos afirmando existir condições para o crescimento da produção através de mão de obra livre pondo fim a escravidão, pois Alves afirmou que a produção provincial crescera após o fim do tráfico e que, se isto se deveu em parte à introdução de máquinas a vapor, ocorreu também pelo emprego de mão-de-obra livre, que os senhores “foram obrigados a chamar [...] embora somente em seis meses do ano”, como forma de repor os braços perdidos pelo tráfico, pelas vendas e pela cólera. Não especificou de que forma este trabalho era feito, parecendo tratar-se de jornal ou empreitada. Concluía que a abolição era possível, e que o governo deveria marcar um prazo máximo de sete anos para o fim do trabalho escravo.