quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Família Corumba como retrato de uma classe oprimida


Somos conhecedores do Boom da industrialização nos primeiros anos do século XX em Aracaju, sabemos também que Sergipe apesar de seu pequeno espaço territorial foi destaque no nordeste quando se tratando da modernidade proporcionada pela indústria nos centros urbanos. O boom econômico da indústria no século XX, foi o principal responsável pela migração de famílias que saíram da zona rural em busca de dias melhores na cidade.
            Foi a partir desta temática que Amando Fontes desenvolve seu romance OS CORUMBAS, publicado em 1933. Em seu romance ele buscou a construção de uma literatura voltada para o processo de industrialização e a vida do operário no entorno das recentes fabricas instaladas na capital sergipana. Na criação dos personagens da família Corumbas, fontes transcreve todos os anseios vividos no imaginário das varias famílias camponesas, que alimentavam o sonho de liberta-se das frequentes secas que assolavam a rotina dos trabalhadores rurais e da vida dura na lida campo, por uma vida na cidade em que poderiam garantir emprego e dias melhores para todos os membros da família. A partir das ideias expressa no romance voltada para a personagem de Sá Josefa, apresento alguns comentários sobre a sonhadora e desiludida mãe em busca de dias melhores pra sua família.
            Como apresentado na obra de Fontes, os personagens da família Corumba surge logo depois do primeiro encontro entre Geraldo Corumba e Sá Josefa, em uma festa na fazenda do senhor João Piancó que na ocasião pagava promessa a São José santo padroeiro das chuvas segundo a crenças dos nordestinos, comemorando assim os bons níveis de chuvas do ano anterior, sem imaginar o que estaria por vir anos depois. Em 1905 quando já casados Geraldo e Sá Josefa foram testemunhas de uma das maiores mazelas provocadas pela falta das chuvas, sendo que após a morte do senhor João Piancó que havia morrido de desgosto, viram-se obrigados a saírem daquela fazenda com seus três filhos e irem ganhar a vida em outro lugar, chegando assim ao engenho Ribeira na cidade de capela, no qual permaneceram lá por dezessete anos e a senhora Sá Josefa deu luz a mais três filhos tendo mais duas meninas e um menino, sendo que este menino morre ainda pequeno e o casal fica então com quatro meninas e um menino, uma vez que para a realidade que viviam no campo ter meninas era algo bastante negativo pois a figura feminina para a labuta do campo não servia e não geraria renda.  
            A saída da Família Corumba daquelas terras para o engenho, não nutriu os sonhos da senhora Sá Josefa em conseguir dia melhores para a sua família, logo viram-se vitimas do capitalismo rural que sugava suas esperanças e sonhos a partir da exploração dos usineiros e senhores de engenho. Restava agora apenas o sonho de Sá Josefa para saírem daquela situação de miséria, pois ela apegava-se na esperança de que na cidade haveria espaço para melhoria de vida de sua família assim como podemos observar nessa passagem:
"Na capital, havia emprego decente para as duas meninas mais velhas. Era
nas fábricas de Tecido. Estavam assim de moças, todas ganhando bom dinheiro .. .
Pedro não custaria em conseguir um bom lugar, como ferreiro ou maquinista .. .
Uma outra vida, enfim. Vestia-se melhor, andava-se no meio de gente ... Depois,
tinha assim uma certeza, uma espécie de pressentimento, de que lá as filhas logo
casariam. Isso, as mais velhas. As duas mais novas iriam para a escola. Nem
precisavam até de trabalhar. Caçulínha, que era tão viva e inteligente, bem
poderia chegar a professora ... " (Ç. pp. 27- 28).
Sá Josefa, que tinha um irmão que já morava na capital o escreve falando sobre o desejo de ir morar na cidade, expondo as dificuldades em permanecer no engenho, apresentando seu desejo de adquirir emprego para seus filhos na Capital, tendo na resposta seu irmão, um rebaixo em seu sonho apesar de apresentar uma ideia de que a cidade teria melhores condições de vida para a família de dona Sá Josefa e seu Geraldo, assim como poder observar:
"Aconselhar, não aconselho, que as coisas por cá também não andam
muito boas. Mas que é melhor do que a vida sem futuro aí do mato, principalmente
quando a gente tem a casa cheia de filhas moças, isso até um menino sabe que é.
Se resolverem vir, o trabalho para as duas mais velhas está garantido, que
isso eu mesmo posso arranjar" (Ç. p. 28).
A partir do instante em que a família Corumba se instala na cidade, vemos uma mudança radical no seu modo de vida. Nesse momento percebe-se que o sonho que a senhora Sá Josefa carregava em si, de que a vida na cidade traria mudanças significativas pra vida de sua família, foi se perdendo  ao passo que sua família degradava-se nas péssimas condições de vida a qual aquela família estava inserida forçadamente pela situação daquela realidade. Pra refletirmos sobre as condições de vida da famílias pobres operária da época basta analisarmos as condições das casas descrita da obra de Fontes:
Àquela hora, ainda reinava o mais completo silêncio em casa de Geraldo. Sá Josefa (era assim que a tratava todo o bairro), posto já estivesseacordada, deixara-se ficar sobre as tábuas duras da cama, toda encolhida de frio, debaixo da sua desdobrada miserável coberta de retalhos. O sudoeste soprou mais forte, açoitando a chuva por entre as frestas do telhado. Então a mulher abriu os olhos, dístendeu os braços e as pernas, e murmurou, num bocejo: - Santo Deus! Ainda chove! Como não devem estar estas ruas? Permaneceu ainda uns momentos estirada sobre a enxerga. De repente, lembrando-se das mil ocupações que a esperavam, levantou-se às carreiras, falando consigo mesma: - Virgem Maria! É de hoje que o relógio deu quatro horas!. .. Deixe-me fazer o café, para acordar o pessoal. Apanhou do chão a caixa de fósforo e acendeu o pavio de algodão do alcoviteiro. Uma luz mortiça espalhou-se pelo quarto, mobiliado apenas pela cama de pinho sem verniz, uma cadeira de peroba mal lavrada, e, a um canto, o baú de folha-de-flandres, pintado de verde, com umas florzinhas amarelas. Tão logo se achou vestida, apanhou do chão o candeeiro e foi até a sala da frente para acordar o filho, que dormia numa esteira da tábua, estendida sobre o chão. Mas não teve necessidade de chamá-lo. Vendo-a entrar, Pedro ergueu-se e lhe falou: (Ç. pp. 34). A velha fez-lhe ainda umas perguntas: "se iria mesmo para o serviço; se o largara a febre que desde três dias o minava". Em seguida, atravessou o corredor apertado, a sala de jantar (onde, numa cama de ferro estreitíssima, dormiam as duas filhas menores), e entrou no apertado cubículo a que chamavam a 'cozinha'. Três grandes pedras brutas serviam-lhes de fogão. Pôs alguns cavacos entre elas. Feito o fogo, colocou em cima a velha chaleira que usavam desde o engenho, e onde iria ferver a água para o café.
Estava deitando feijão com farinha e um pedaço de lingüiça na vasilha que Pedro ia levar, quando este se aproximou, o chapéu na cabeça. -Que é isso? perguntou-lhe a mãe, meio surpresa. Não toma nada antes de ir? - A constipação me tirou toda a vontade de comer, respondeu ele secamente. Pode ser que eu compre um pão aí pelo caminho. Pôs a lata sob o braço e foi saindo. Encaminhou-se para o quarto que ficava entre o seu e a sala de jantar. Nalgumas tábuas estendidas sobre quatro caixões de querosene, dormia Albertina, a segunda filha do casal, morena clara, olhos negros e vivos, num
grande corpo bem feito e transbordante de saúde. A um canto, numa redezinha "trançada", de fios brancos e vermelhos, Rosenda ressonava, a dormir profimdamente. Era a mais velha de todas (Ç. pp. 33
- 36).                                                                                             
Além destas condições de subsistência a que estava inserida esta família, a senhora Sá Josefa já percebia a mudança de comportamento de suas filhas numa espécie de pressentimentos já imaginava como seria o fim daquelas belas moças que viria do campo pra cidade assim como vemos na passagem a seguir:

Eu sempre fui a que sou hoje. Vocês, sim, é que mudaram ... Quando a gente morava na Ribeira, não havia passeios toda noite, nem amiguinhas, nem namoros. Mas, lá, vocês eram tementes. Aqui, é que engrossaram o pescoço. Fazem o que bem dá na veneta, andam acima e abaixo pelo mundo, como bois soltos no pasto, e depois, pai e mãe que se calem ... Ah! Quanto eu me arrependo de ter deixado o meu Engenho!... Foi aqui que vocês deram pra reclamar o trabalho, se lastimando a cada passo e cada hora. Mas eu sei porque é isso. É porque o tempo é pouco pra tratar de vestidinhos, de sapatos, e mais isso e mais aquilo! Agora, querem viver que nem umas bonecas, de laçarote no cabelo e cara lambuzada de pintura! (Ç. p. 63).

 A vida das mulheres naquela momento não era fácil  e se tratando de mulher pobre e operaria então, mesmo buscando vencer pelo trabalho as filhas do casal Corumba, se viram a todo instante seduzidas e tentadas por homens que não estava nenhum pouco afim de compromisso, uma vez que as pobres moças sonhadoras que almejavam crescer viram na figura de um coronel, de um médico e de um advogado a saída de todos os transtornos, sendo  a partir de então a entrada daquela família a um calabouço sem saída chegando ao fim do poço e da desgraça e injuria por parte daquela família que viram suas filhas entregues a prostituição, uma filha morta devido as péssimas condições de vida em torno das fábricas e o filho preso. O destino da família Corumba foi fruto do meio a que estavam inseridos, e não tendo mais nada a fazer na cidade o casal vê-se obrigado a voltar para a Ribeira e a senhora Sá Josefa que havia sonhado uma vida digna pra seus filhos na cidade volta pra o engenho na mais pura desilusão e desencanto com a modernidade.


























 REFERÊNCIAS

FILHO, Barreto. "Os Corumbas ". In: Jornal Literatura. Rio de Janeiro, (I, 3) 5/8/1933.

FILHO, M. Paulo. "Os Corumbas". In: Correio da Manhã. Rio de Janeiro, 18/8/1933.

FONTES, Amando. "Discurso de Amando Fontes na Sociedade Felipe de Oliveira". In: Jornal Literatura. Rio de Janeiro, (I, 17) 5/4/1933.

Silva, Roberto José da.  Inferno Urbano : estudo do espaço em Os Corumbas, de Amando Fontes I Roberto José da Silva. -- Campinas, SP : [ s.n.], 2005.

Novas esperanças para Campo do Brito

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Mais um ano que passa, é vida que segue e a busca de todos pelo progresso e por dias melhores persiste, devemos continuar vigilantes e crentes em dias melhores. o ano que passou foi para Campo do Brito um marco na história e na construção de uma nova história, fomos testemunha da maior resposta da democracia já vivenciada em nosso município desde a nossa emancipação politica, 2012 foi o ano do centenário, centenário este que veio com profundas mudanças no campo politico e administrativo de nosso município, à antiga aliança politica formada por lideranças locais e experientes políticos conservadores que a quase quatro década detinham o poder e O passavam a quem desejassem ou fosse conveniente, sendo este poder destituído pela vontade de mudança e sonho de dias melhores, será apenas um sonho sem perspectiva de realidade? ou será um sonho real?
Este ano que passou Campo do Brito completou cem anos de emancipação politica independente à Itabaiana, por pouco este marco não passara despercebido para maioria da população, não fosse pela iniciativa de algumas instituições de ensino de nossa cidade, ou algumas declarações postadas nas redes sociais na internet dias antes o feriado do dia 29 de outubro, e sendo assim me vem à pergunta, será que somos conscientes da importância desta data para o nosso município e para nós como munícipe? Será que somos cientes dos motivos pelos quais levaram O padre Freire e seus aliados, assim como classificou Adalberto Fonseca, os lideres da empreitada pela emancipação, ter buscado tanto esse feito? O que a emancipação politica significava para aquela população, para o padre e aquela liderança politica que acabava de nascer em nosso município? e o que está presente na nossa história e imaginário sobre este feito? chegou a hora de nos envolvermos um pouco mais com os rumos da nossa cidade, devemos participar mais da vida politica desta cidade que se desenvolve a passos largos, que este primeiro ano após o centenário seja uma nova data para grandes acontecimentos como o do 29 de outubro de 1912.